Não é exatamente uma questão nova e sim um assunto discutido frequentemente por diversas pessoas e instituições.... Mas, quem são e como pensam os jovens nipo-brasileiros de hoje?

Ultimamente, através da nossa amada e odiada internet tenho visto perfis, blogs, comentários de muitos descendentes de japoneses e estou percebendo uma grande mudança no "padrão de nipo-brasileiro"

Por ser parte da comunidade nikkei mais "fechada" minhas opiniões estão longe ser imparciais e termino por aceitar muitos dos preconceitos dessa comunidade, mas também tenho muitas críticas ao pensamento tradicional das "colônias japonesas".
Há uns 10 anos atrás parecia muito mais simples descrever os jovens nipo-brasileiros, que basicamente se dividiam entre os "japas de colônia" e os "japas que não são de colônia", os que já haviam se tornado BRASILEIROS de verdade. Os do primeiro grupo eram aqueles que frequentavam as associações de provincia ou da cidade/bairro, os nihongo gakko, os karaokê taikai.... eram aqueles que moravam com "jichan e bachan", gostavam de shiro gohan com furikake , de mochi , ouviam Kiroro e usavam o "uniforme" calça jeans+camiseta+tenis adidas+mochila jansport.
Os "japas abrasileirados" eram do tipo Sabrina Sato, não sabem quase nada sobre cultura japonesa, não frequentam associações, se vestem de acordo com a moda e ouvem sertanejo, samba, pagode e as musicas do momento. No máximo chamam os avós de jichan e bachan pq eles mesmos se chamam assim, mas como muitos diziam sobre si próprios," de japonês só tem a cara".
Eu grande parte dos meus amigos éramos enquadrados no primeiro tipo, obviamente...

Mas ultimamente eu tenho dificuldades em reconhecer quem é "de colônia" e quem não é. O boom da cultura pop japonesa no Brasil, difundida em grande parte pela internet e com a popularização dos mangas e animes entre brasileiros em geral parece ter incentivado aqueles que antes tinha pouco ou nenhum interesse em cultura japonesa a abraçar a cultura japonesa como se fosse parte central de sua formação como pessoa, como se fosse uma "herança cultural", o que só era parte da realidade, do dia a dia de nós , os "malditos japas de colônia" que comem shiro gohan todo dia. A popularização da cultura japonesa levou esses descendentes que antes pouco ligavam pras tradições japonesas, seja por incentivo famliar ou desinteresse pessoal, a usar a ascendência japonesa como se fosse um título, uma grau a mais entre os fãs de cultura pop japonesa.
O conhecimento desses descendentes de japoneses fãs unicamente de cultura pop se restringe, assim, obviamente a elementos do universo pop japonês. É um conhecimento superficial, mas em uma conversa com não descendentes eles muitas vezes não deixam de citar com a autoridade que os olhos lhes conferem conhecimentos errôneos ou estigmatizados sobre a cultura japonesa.

E os antigos "japas de colônia" são o que agora? É bem mais dificil caracterizar o que seriam os" japas de colônia" atuais através da internet, já que muitos não mantém, blogs ou paginas pessoais. Os que mantém apresentam várias caracteristicas parecidas com os que são unicamente fãs de cultura pop e assim o só vamos reconhecer um "japa de colônia autêntico" através da convivência mesmo. Esse tipo de jovem nipo-brasileiro ainda frequenta as associações, as escolas de lingua japonesa e também é fã de cultura pop japonesa . O grande diferencial ainda é o comportamento. Não usar elementos de sua ascendência como um "título" a ser mostrado e encarar as tradições que aprendeu com a familia como rotina são características desse comportamento.

Não queria que esse post ficasse tão questionavelmente favorário aos "japas de colônia" pq mesmo que eu me enquadre por diversas características nesse "tipo" de jovem nipo-brasileiro (nem tão jovem assim na verdade) eu nunca aceitei esse termo "japa de colônia" , já que além da parte de manutenção das tradições japonesas esse tipo de pessoa também esta associado a preconceitos diversos, como não aceitar brasileiros em seu círculo social, embora esse comportamento esteja se tornando cada vez mais raro.
Mas é fato que fui criada com jichan e bachan me falando pra não confiar em brasileiros, pra ter amigos dentro da colônia, pra ir nos eventos do kaikan do bairro. Como tsukemono e kinpira de take-no-ko feitos em casa , tenho os hotokesan budistas, só me chamam pelo nome japonês e sou supersticiosa com o 4. E não aprendi nada disso com animes.
E tbm é fato que me irrito com fãs de anime e cultura pop japonesa que tentam me ensinar sobre a minha própria cultura usando como exemplos personagens e passagens de animes e critico pessoas que acham que por ter olhos puxados sabem tudo sobre o Japão.

Como pesquisadora eu sei que simplesmente ser ou não ser "de colônia" não é o suficiente para conhecer de fato a cultura de um país no qual eu não vivo, pelo contrário, ser de colônia as vezes significa seguir costumes que nem sequer existem mais no Japão, mas ainda assim mostra que existe uma identidade originalmente japonesa a ser preservada. Aqueles que por ter aparência oriental adotam diversos elementos introduzidos pela cultura pop japonesa difundidos através dos meio de comunicação mas sem ter essas referências culturais de berço parecem querer enganar aos outros e a si próprios e me decepcipna muito ver que existem muitas pessoas nessa situação. São atitudes que só contribuem com a difusão dos estereotipos de pessoas que só podem ser considerados NIPO-brasileiros pela cara mesmo, assim como aqueles que se desligaram totalmente da cultura japonesa, com diferença que estes não tentam passar uma falsa imagem de "japoneses".

Será que agora podemos tentar dividir os nipo-brasileiros em três grupos? No fim, me parece que muitos desses nipo-brasileiros têm mais é que aprender sobre cultura japonesa com alguns não descendentes, hi nikkeis, que fazem um trabalho de pesquisa fantástico sobre cultura japonesa e sabem respeitar os usos e valores tradicionais.