Você já ficou tão decepcionado com alguma coisa que você abriu um blog que você estava protelando a anos? Não? Okay
Gostaria de iniciar esse post dizendo que não sou de forma alguma crítico de música.
Nos últimos tempos, tenho tido um esforço ativo de tentar conhecer coisas novas no âmbito musical, e também de tentar entender o porquê determinadas coisas mudaram de forma radical a química cerebral dos meus amigos e pessoas próximas, e fizeram eles chegarem ao ponto onde chegaram.
Esse esforço normalmente tem me recompensado, passei a conhecer muita coisa legal de música assim em gêneros que eu não escutava antes com muita frequência (Kendrick Lamar e MF DOOM entraram muito forte em meu Músicas Curtidas do Spotify), e muita coisa legal de gêneros que eu já escutava (vide Visual Kei, onde fui finalmente atrás de algumas das músicas mais novas do Nightmare, coisas antigas que eu tinha esquecido, entre outros). É um exercício que eu pretendo continuar, com certeza ainda tem muito de bom de tirar dele. Mas uma hora ia dar errado.
Em meados de agosto, Taylor Alison Swift anuciava seu mais recente álbum, The Life of a Showgirl (em tom de ameaça).
Eu nunca me importei muito com Taylor Swift.
Quando ela começou a fazer sucesso, girly pop não era exatamente o tipo de música que eu mais ouvia, mas me lembro de ouvir Blank Space na rádio durante as férias em 2014, e achar "okay". Lembro de achar a coisa da ex namorada Psycho meio exagerado. Gosto tanto de Shake it Bololo quanto qualquer um, e admito que parte dessa música ser boa é porque Shake it Off é um banger. De resto, o que eu ouvi dela era muito "normal", seguro, bem coisa de se tocar no rádio, não que tenha qualquer problema nisso, Kpop é a prova que existe muito espaço pra muito artista de pop médio. Mas, do dia pra noite, a Loirinha do Tenessee (que recentemente descobri que não é do Tenessee) virou o grande Astro do Pop da nossa geração.
Essa mudança de paradigma do pop sempre me deixou meio inconformado, porque nunca me fez sentido essa ascensão tão rápida, mas Taylor não foi a única. Tive dúvidas semelhantes também quanto ao sucesso da Beyoncé, durante um tempo, o que talvez mostre minha ignorância quanto ao Pop. Mas ao entrar em meu emprego atual, um Intensivão de Beyoncé me fez entender melhor o que ela tinha pra mostrar, e aceitar seu status na realeza do Pop.
Esse sentimento de curiosidade unido à empolgação de uma amiga muito Swiftie, me fez ter a curiosidade de ouvir o novo álbum. Não sou de ferro, é um evento que mobilizaria a internet de certa forma, e as fotos do álbum mostravam uma estética de cabaré, que junto com o nome, faziam parecer que algo de interessante sairia dali, né?
Em Três de Outubro de 2025, Taylor Alison Swift lança seu mais recente álbum, The Life of a Showgirl.
Mais uma vez, graças à empolgação de minha amiga swiftie, à curiosidade do evento coletivo, a vontade de conhecer músicas novas, e de entender o que ocupa um triplex na cabeça des meus amigos, eu decidi ouvir ao álbum.
A música que abre o álbum, The Fate of Ophelia, é de longe a melhor música do álbum, e ouvi dos meus amigos swifties o quanto ela é um banger, etc. Mas eu não consegui tirar da cabeça um pensamento durante todo o tempo.
"Meu deus do céu essa música é extremamente mid"
Ouvindo a música, ela me soou como um meio termo entre a energia da Marina (sem os Diamantes), e a melancolia da Lana Del Rey. Mas o problema se ser o meio termo entre as duas coisas, é que não consegue chegar nunca no que faz qualquer uma das duas outras artistas ser interessante. É um grande "é, okay, é audível". Essa é a melhor música do álbum.
O resto das músicas, em uma vista por cima, são muito o arroz com feijão da Taylor Swift normal. Uma batidinha okay, uma voz normal, tudo completamente nada demais.
É comum ver também quando a Loirinha é assunto sobre o quanto ela é "uma grande escritora!", "a maior letrista de sua geração!", lembro de me mostrarem o corte de um podcast onde ela revelou o disco pela primeira vez, o namorado (agora noivo?) dela comentando sobre como ela escreve coisas complexas com palavras difíceis. Talvez seja esse álbum, e todas as músicas mais famosas dela que eu ouvi, mas eu me sinto completamente maluco quando alguém diz isso, porque não é possível que só eu esteja cego e não enxergue os versos mais água com açúcar da história da humanidade.
O título "The Life of a Showgirl" mostra o tema do álbum, como é a vida da Showgirl por trás das cenas? Como mencionado, a parte visual do álbum é fortemente de cabaré, com algumas poses sensuais (e algumas que tentam) e pouca roupa. Apesar disso, é incrível como o álbum não tem nenhuma música que remeta à estética. Não tem Big Band, não tem um metal, não tem nada, todas as músicas seguem uma vibe muito pop safe normal, nada de muito diferente do que ela fez antes. É impossível ouvir isso, e não ficar pensando em coisas como Showgirls do Girls' Generation (um hit pop razoavelmente safe sobre conquistar a vida de popstar), ou 目抜き通り/The Main Street da Shiina Ringo (que fala sobre a impermanência da vida e usao Big Band pra mostrar como apesar disso a gente precisa aproveitar) e sobre como seria interessante se houvesse algo assim no álbum.
A porção da sensualidade também está em falta. Alguém lendo isso vai instantaneamente pensar "mas e Wood, a música onde ela fala da piroca do namorado?". É um pensamento correto, realmente, Wood é sobre a piroca do namorado dela, mas é incrível o quão não-sexy essa música é. A forma que ela fala da piroca do futuro marido parece quase tirada de um filme da Disney, esterilizada de qualquer sensualidade de alguém normal, é quase desconfortável pra quem está ouvindo. Por mais que Taylor seja a "Mãe" da Sabrina Carpenter, e essa música ser muito claramente feita do mesmo material que as da "filha", falta tanto o sujo de um desejo carnal genuíno, quanto a irreverência e leveza que quase me lembra um Ninja Sex Party.
Voltando um pouco pra questão de ser uma grande Songwriter, CANCELLED!! pra mim é a prova de que o contrário é a verdade. Em alguma conversa do Telegram eu disse que essa música seria ótima em Simlish, porque a letra é doída de escutar.
"Have you ever Girl-bossed too close to the sun?"
Chega a ser um pouco difícil ouvir essa frase logo no começo da música e não sentir o cringe correr pelas veias, é o How do You do Fellow Kids mais forte que eu vi em muito tempo. E essa não é a parte da música que mais dá vergonha alheia, e quero aproveitar essa ponte para falar de Taylor Swift como personagem.
É inevitável, música Pop é plástica e falsa. Seja americano, britânico, coreano ou japonês. Solo, em grupo ou em mega grupo, o Pop é uma indústria musical criada milimetricamente pra encher bolsos de acionistas. Não quer dizer que não existam coisas boas, ou que não exista arte no Pop, pelo contrário, a arte floresce ainda que seja no meio de uma grande armadilha do capitalismo. Mas ainda é uma fantasia, e como fantasia, existe o artista pessoa e o artista persona. Com frequência, a pessoa e a pessoa estão muito próximas, e acredito ser esse o caso da Taylor, que gosta de ser muito pública, e demonstrar proximidade com os fãs, e parecer ser just like me fr fr.
Isso funciona muito contra ela nesse álbum, e o grande exemplo é em CANCELLED!!. O verso sobre grilbossing já é fraco, mas quando se olha com algum senso comum, a letra desmorona quando ela canta o refrão
"(Honey) welcome to my underworld, it'll break your heart
At least you know exactly who your friends are
They're the ones with matching scars"
A suspensão de descrença é imediata. Underworld? Matching scars? Me desculpe, mas esses versos vem das mãos da mulher mais branca e privilegiada possível, com um net worth estimado de 1,6 bilhões de dólares, conhecida por atravessar a esquina de jatinho. Além disso, canceled? A artista mais ouvida do Spotify, que fez uma enorme turnê mundial com todos os ingresso lotados (fui parte de alguns multirões de compras de ingressos durante a porção do Brasil da turnê), e que honestamente? Considerando outros artistas da mesma área, a grande polêmica atrelada a ela é a emissão de carbono estratosférica dos passeios de avião particular. O personagem criado não convence de forma alguma, a letra só parece patética.
No começo do texto eu falei sobre como eu tenho ouvido Kendrick Lamar, minhas música favorita é United in Grief. A música tem muito em comum com o que a Taylor esperava mostrar em The Life of a Showgirl, sendo muito pessoal sobre os sentimentos do artista por trás das cortinas, sua história, suas cicatrizes (que aqui convencem) apesar das pilhas de dinheiro. Também é um mergulho produndo. Mas a diferença é que aqui ao voltar à superficie ele trás consigo um sentimento vindo do âmago. Algo íntimo, sujo, feio e cheio de espinhos. E essa feiúra tirada da profundeza, em conjunto com uma batida sincopada e rimas e duplos sentidos (não só sexuais) transformam a experiência do Rapper Milionário em algo que ressoa em quem tá ouvindo, cria uma figura trágica. Por não mostrar o sentimento feio, o veneno que existe dentro, Taylor tenta se colocar como a heroína de uma tragédia shakespeariana, mas termina como uma coitada.
Por fim, eu acho que é isso. Tem muito mais coisas que eu gostaria de falar, mas o resumo é isso: Me revolta que a Maior Artista Pop de Nossos Tempos, a Grande Premiada, Aquela que é Maior que o Seu Fave ™ não consiga entregar mais que uma nota 5 empurrada em conselho. Taylor Swift está no topo do mundo, dormindo sobre um colchão de palmas em um travesseiro de elogios, e não consegue entregar algo que me mova (isso que não me considero difícil de mover, particularmente), e eu não consigo entender o que disso mudou pra sempre a perspectiva de mundo dos meus amigos. E é frustrante ver essa falta de Tentativa™ como alguém que gosta de uma arte que não precisava ser boa, mas que Tenta™ .
O que é uma boa ponte pro que provavelmente vai ser o próximo rambling que eu vou postar aqui. O anime que não tinha porque tentar tanto assim, mas tentou e agora é um pilar de suporte da cultura pop.
Ele mesmo
Mobile Suit Gundam.